quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

CRÔNICAS


A N S E I O
por RAStival

A Mona não me deixa trabalhar, ou faz-me trabalhar como um mouro, atravessando por sobre as horas de sossego, pulando descansos, engolindo feriados.

Ela é assim e sempre foi – criaturinha difícil essa Mona! Amante exigente que me tira o sono, a paz, a paciência; cega-me o discernimento e faz-me, como à moda dos facínoras, querer mesmo matar o velho que vai à frente, a passo de caracol e de chapéu,  a chutar os cães da rua ou desdenhar os carinhos de minha mulher. Meus ouvidos ensurdeceram aos apelos de meu filho, por causa da Mona…

Desde que me meti com a Mona tem sido assim: ando como um zombi a perambular pelas ruas e centros comerciais, a consumir-me diante das montras, sonhar com o “algo mais” em busca do esquecimento do “algo menos” que me transforma em coisa.

Esqueci-me de minha centelha divina. Agora sou coisa perecível, consumível, descartável, graxa para a engrenagem que a Mona movimenta com a pontinha de seus dedos, apenas com o leve pestanejar de seus olhos insidiosos. Centelha divina?! Mas que raio vem lá a ser isso?! Dane-se a catequese puritana! Quero mesmo é consumir-me no fogo-fátuo da Mona! Fogos-de-vista, de pouca dura, mas que me fazem vibrar de dorido prazer. Quero receber e, de preferência, sem muito ter que dar.

Penso agora que talvez seja eu a criatura refeita á imagem e semelhança da Mona. Fundi-me com ela, meu grande e sonhado amor. Refiz-me sob seus auspícios e cerquei minha vida toda com a necessidade premente de andar nas suas graças… Nas graças da Mona, que me faz rir e querer olhar para o Sol, quando está comigo.

Desse jeito a Mona acaba comigo! Onde anda? Onde anda a Mona? A dormitar na penthouse? Escondida pelos becos escusos? Atrás da gravata caríssima do figurão? Por onde anda a minha Mona tão amada? Ter-me-á esquecido? Perdido a minha morada? Meu paradeiro?

Mas bem sei que ela anda por aí… Sigo o seu rasto, sinto o seu cheiro, excito-me e estremeço-me só com a possibilidade de tê-la comigo outra vez, mais um pouco…

Sou um cão danado sem a Mona! Um cão reles e desclassificado a farejar-lhe despudoradamente os calcanhares.

Mas que faço eu sem a Mona?! Nada sou sem a Mona! Nada tenho e para o nada vou! É ela que me constrói – monta-me e desmonta-me como um puzzle e transforma a mim e a minha vida num amontoado de peças avulsas e desconexas, ou num castelo sumptuoso… Sem a Mona não me encaixo em nada e ninguém quer ou pode encaixar-se em mim. Sem a Mona não posso existir e nem morrer.

Que maldição é essa? Que sortilégio é esse que ela pôs sobre mim? Só posso ser gente com a Mona!

Desespero-me e sinto que vou desintegrando-me aqui mesmo, no passeio, diante da Banca, dos famosos e dos anónimos. Os altos executivos, com suas pastinhas e sapatinhos de croco saltam-me enojados, assim como as pessoas do povo, os estafetas, entregadores de pizza.

Sem a Mona sou coisa pior que a coisa, lixo pior que o lixo. Impecilho que empesta a rua, afasta os turistas e depõe contra as autoridades. Só tenho agora as formigas a sugarem-me a saliva grossa que pende da boca e que produzi de tanto gritar pela Mona.

Mona que não me ouviu. Mona que fugiu de mim. Mona que desdenhou as obras que lhe ofereci entre esperançado e inocente. Mona que prefere a companhia dos poderosos…

Já não tenho forças… Libero o meu último anelo num misto de dor, raiva, pesar e estupefacção, enquanto a noite tardia envolve-me e cai sobre os edifícios e os carros da grande avenida:  “Mona… Amor… Mon amour… Money!...”

Publicado  pela primeira vez na seção  QUIOSQUE do site AEIOU  -  19/12/2008  -  PORTUGAL






Sobre o Amor dos Homens e dos Bichos
por RAStival



Sinto que não estou só no quarto enquanto termino umas tarefas. Olho para o lado e, a postos, junto à porta da casa de banho está o Nico a monitorizar-me silencioso para que eu não o detecte em sítio proibido.
Do outro lado, no tapete aos pés da sanita está a Pipa, meio deitada, meio em pé, daquele jeito que os felinos ficam, a monitorizar a mim e ao cão.

Passou por mim vinda de sua cadeira, imperceptível como o oxigênio e lá se instalou, dona do aposento – e minha dona também, que é essa a sensação que me dá muitas vezes.

Impossível não rir diante da atitude dessas duas criaturinhas que me olham com aquela cara de “nãometiradaquipeloamordedeus!!!”, sabendo que estão a se esticarem pisando a risca do pode/não pode só para estarem por perto observando, velando, ou apenas estando ao pé, quando estou em casa. Dois guardiões, ou dois ciumentos, não sei ao certo, talvez um pouco de cada.

Já tirei várias sonecas na sala e acordei com um de cada lado – a gata em cima, equilibrando precariamente seus cinco quilos e oitenta centímetros no espaço irrisório do encosto do sofá, enquanto o cão está no chão, parecendo uma esfinge sobre o tapete artesanal que nos custou o olhos da cara e que tem sua marca pessoal – um buraco meticulosamente roído na calada da noite quando ainda era um “bebé” e que agora me obriga a uma feroz ginástica para escondê-lo sob os pesados cadeirões.

A Pipa veio primeiro. Aliás, veio comigo do Brasil – verdadeira epopéia financeira e burocrática para poder viajar como uma espécie de bagagem de mão viva. Foi só curar-se do jet leg e da ressaca do calmantezinho que seu veterinário lhe receitou para o voo, que tomou posse da casa, senhoreando tudo, a passear sua perfeição felina pelos cómodos naquela elegância tão sua que até dá gosto de se ver.

O Nico veio um ano depois, um Shih Tzu preto e branco, uma mistura de músculos e tanto pêlo, que quase não se sabe de que lado está a cabeça. É um “anjo canino”, que escolheu a mim para sua dona e ganhou-me pelo cansaço e teimosia. Simpático, brincalhão e meigo; faz-me rir com suas palhaçadas e deita a cabeça em meu colo para pedir mimos e cançõezinhas tolas.

Meus companheirinhos... Quando os vejo cada um num degrau no alto da escada – a Pipa peneirenta, a torcer os bigodes para o Nico deitado com a cabeça apoiada nas patas dianteiras fingindo inocência, ponho-me a pensar como seria se nós, seres humanos, tivéssemos a coragem de demonstrar amor e dependência tão descaradamente como os animais. Eles gostam e pronto. Querem estar ao pé de nós somente por nossa companhia, porque sentem-se bem apenas por sermos quem somos e desfrutam disso no silêncio de apenas estar. É como se dissessem: “A tua presença faz-me bem. Deixa-me estar ao pé de ti.” – e em troca dão-nos companhia e amor sincero, dentro das óbvias limitações que a Natureza lhes impôs, mas sempre dando o seu melhor.

Isso comove-me e faz-me sentir responsável por seu bem-estar. Em muitos momentos de crise, pareceu-me que só tinha os dois por aqui...

Este é um bem-querer sincero, puro, que nada pede em troca.Quem dera tivéssemos esse desprendimento e a coragem de gostar sem condições ou pré-definições. Parece que somente nos dispomos a amar o que é impecável, perfeito. Esquecemo-nos que possivelmente, em muitos casos, talvez sejamos nós os menos indicados a tecermos julgamentos.

Somos forretas com os nossos bons sentimentos. Não dizemos “Gosto de ti.”, “És porreiro.”, “Desculpa-me.” – e nos orgulhamos de não sermos nós a darmos parte de fracos! Enquanto isso, esquecemo-nos de olhar para fora e vermos que a vida segue, passa por nós e que apenas vamos envelhecendo sem viver – e envelhecendo solitários!

Às vezes é inevitável não pensar que apenas nos usamos e não nos doamos uns aos outros. Parece que precisamos do outro somente para ter sexo, segurança financeira, o carro arranjado, a casa em ordem...

Seja por hábito, ou falta de treino, ou mesmo sensibilidade, vivemos em intercâmbio de troca apenas material, numa espécie de convivência semi-descartável, sem legar ao outro algo de nosso que realmente valha a pena. Entramos num consumismo tão desenfreado que vamos nos comendo sem realmente sentirmos o sabor do outro e sem ofertar-lhe a nossa essência.

Entretanto, sinto que ainda tenho uma visão romantizada da vida e acho que é preciso ter “olhos de ver” e “coração de sentir” para se poder aprender com as coisas mais singelas, muitas vezes escondidas por nossa necessidade e ânsia do “tudoaomesmotempoagora”. Embora vivamos em “tempos bicudos”, acredito que sempre semearemos um gesto de paz, todas as vezes que tirarmos os olhos de nosso próprio umbigo e os voltarmos na direção dos olhos dos outros.


Publicada no Quiosque do AEIOU 17/07/2008
 
 T E M P O
por RAStival

Andamos numa lufa-lufa diária e fazemos de tudo: a encaixar um compromisso aqui, a desenrascar uma situação acolá, menos viver.

Deixo escapar um grunhido como se fosse um mamute encalhado. Remexo-me inquieta na fila da caixa do supermercado. Atrás de mim, como se fossem minha extensão, os demais clientes já adivinham a lenta agonia que se avizinha.
- Porquê, meu bom Deus?! – Lanço meu brado dorido aos céus, no auge do desespero.
Todas as vezes que estou a morrer de pressa , a tirar o pai da forca, acontece-me, ou da fila ao lado ir mais rápido, ou de haver qualquer imbróglio com a caixa, o cartão, o produto, o cliente, a coisinha do mosquito que enganchou-se em qualquer lugar e travou todo o sistema.
Cruel e impiedosa Lei de Murphy.
Então demora-se a vida inteira e mais três dias naquele passo de camelo a cruzar o deserto, para desenroscarem a coisinha do mosquito do mecanismo altamente sensível e delicado, capaz de parar todo um sistema e pôr uns quantos no limbo, com suas vidas suspensas, na agonizante espera, como se suas vidas tivessem apenas a missão de esperar...
E eu ali, também parada na fila – dois de paus especado, a sentir a gotícula de suor a escorrer-me pelas costas lentamente, apesar do quase gelo glacial do ar condicionado, a segurar firmemente entre as mãos o objecto de que precisava desesperadamente naquele instante.
À minha frente, a malfadada cliente que despoletara a situação acabava de erguer aquela barreira virtual do tipo “não estou a ver ninguém”, para manter-se o mais ilesa possível de nossos olhares raiados de sangue, cheios de sanha assassina, enquanto eu, mentalmente, refaço os próximos passos e atalhos que me farão recuperar aquele tempo inesperadamente perdido.
Tempo... Escorre-nos pelos vãos dos dedos e nos remete a uma roda-viva extenuante e cheia de glórias vãs.
Andamos numa lufa-lufa diária e fazemos de tudo: a encaixar um compromisso aqui, a desenrascar uma situação acolá, menos viver. Ladrões de nós mesmos, andamos a roubar-nos o convívio das pessoas e sobretudo dos amenos prazeres que certas coisas simples do dia-a-dia nos proporcionam.
Eu, que costumo pedir meias-de-leite morninhas para serem engolidas rapidamente, confesso que tenho inveja daqueles que têm tempo de mexer infinitamente o café que vão bebericando quase que ritualisticamente. E, se por acaso puderem estar sentados a folhearem o jornal... Meu Deus, quero o tiro de misericórdia!
Já começo a sentir saudades do tempo em que trabalhava quinze horas diárias, com períodos de almoço e de jantar de trinta minutos e ainda conseguia frequentar cursos aos finais de semana, cuidar de mim, da casa, estar com os amigos. Alguém até poderá dizer-me “Eras mais nova...”. Admito que sim, entretanto não é somente isso: o tempo parecia esticar-se. Hoje, está cada vez mais curto.
Diacho! Faz pouco tempo que descobri que não sou imortal e, a bem da verdade, desde o meu último aniversário, quando depois de uma careta que denotava pura admiração, lançaram-me esta: “Mas estás tão conservada!...”
Bolas! Quem anda na conserva é pepino! Eu ando mais é a descascar abacaxis, como se diz na minha terra...
Enfim, só sei que com essa descoberta, além de estar presa irremediavelmente nas redes do tempo, já vejo bem os sinais que o desgraçado anda a produzir em mim, principalmente quando estou diante do espelho, a expor minhas verdades.
Dizem que o tempo tem poderes curativos. Acredito que sim, mas se ele, o tempo, for nosso adversário em vez de aliado, acabará por nos deixar doentes de quotidiano.
Quisera eu ter algum tempo, de vez em quando, para acordar sem uma agenda a martelar o cérebro, ou todos os afazeres do dia apontados com seus horários.
Nesse dia, seria tão bom ter uma varanda com luz amena e o sossego meditativo para ir apenas apreciando a relva a crescer; ter tanto tempo de sobra, que poderia até beber um café bem devagarinho, depois de tê-lo mexido milhões de vezes, ou mesmo ter tempo suficiente para saborear as amizades como se deve, apreciar o entardecer sem ter que olhar para o relógio para confirmar as horas e fazer contas de cabeça; partilhar coisas simples e sinceras com aqueles que também esperam a nossa atenção, sem termos a sensação de estarmos a roubar esse tempo a nós mesmos.
Quando é que virá esse tempo? Talvez já tenha por mim passado e eu, em plena correria, nem tenha notado. Será um tempo que conseguirei quando eu acordar mais cedo ainda? Ou será um tempo que tem que ser fabricado, reestruturado, inventado e moldado praticamente como tudo o que existe em nossa civilização?
Acho que ainda não tenho a resposta, ou talvez não tenha tido tempo para pensar no assunto.
O que importa mesmo é que já noto que finalmente o sistema da caixa voltou a trabalhar, o problema foi resolvido e a cliente já sai, carregada com seus sacos a estampar no rosto aquela felicidade redimida de quem acabou de sair de uma histórica obstipação intestinal. Eu e os restantes da fila suspiramos, de puro júbilo mal disfarçado.
Pago o livro que tinha em mãos, a motivação da compra já arrefecida, a conjecturar se à noite terei tempo e disposição para começar a leitura...
É bem provável que mais tarde, quando tiver um tempinho, aproveite para cuidar das minhas violetas e, quem sabe, cultivar algumas pessoas.
Publicado pela primeira vez na seção Quiosque do site AEIOU em 23/08/2008 - PORTUGAL



BANHO EM ÁGUA DE MALVAS


                          “Aquela bela jóia era um sonho, um delicado tesouro.

             Impossível dizer a verdade, impossível dizer que não era meu aquele precioso anel, impossível admitir que o amor que ele simbolizava não era e nunca seria para mim...

              fui capaz de entender minha atitude anos mais tarde... justamente neste meu tempo de  sofrimento, quando páro e começo a pensar sobre tudo o que vivi e me congratulo com certas coisas feitas e vividas enquanto outras, que saíram do quarto escuro em que as escondi por medo e vergonha, espantam-me e assustam-me.

             Hoje, quando mais o pudor da alma, que a própria coragem obriga-me a contar essa história que está há tanto tempo inconfessavelmente presa em minhas entranhas, quando começo a escrevê-la com o sol de fim de tarde batendo em cheio sobre estas páginas, quase cegando minhas vistas fracas com seu esplendor, tenho vontade de começar assim: “Yo vivia en un barrio de Madrid...” daquele poeta dos Andes, que fora jovem quando escrevera esses versos  e termina com “... la sangre en la calle”. Mas o sangue nesta minha história não representa a morte, mas a vida e as gerações que vi passar ao longo desses meus anos de culpa solitária.

             Sim, eu vivi em um bairro de Madrid, onde experimentei o ópio e me inebriei com o sexo embalada pelo despudor do anonimato, as noites passadas em claro no frenesi descompassado da poesia, da melancolia, do vinho, da névoa dos cigarros e da filosofia que embotava a alma e a razão. Vivi em Madrid fugida, a monte, escapava com mentiras bem elaboradas dos meus tutores lisboetas, sequiosos de me proporcionarem a mais fina educação européia e, quem sabe, para alívio deles, devolverem-me aos meus pais no Brasil, já com casamento arranjado com promissor doutor da Baixa , com brasão e algo mais,  formado em Coimbra...

             Quando fiz oito anos meus pais me enviaram para um rico e conceituado Colégio de São Paulo e lá fiquei interna até os dezesseis anos, quando uns parentes  portugueses dispuseram-se a dar continuidade à minha formação acadêmica e social. Da Europa só retornei aos 21 anos de idade, quando então minha família já tinha se reduzido a meu pai e eu.      

            Mas vivi também em uma fazendo no interior de São Paulo, quase perto de Minas Gerai,s que nos pertencia desde que os primeiros portugueses puseram os pés em solo paulista. Da janela deste quarto onde durmo desde que nasci, sempre pude ver os contornos azulados das serras daquelas bandas de Minas – sempre foram meu prazer e consolação. Observá-las era imaginar-me na borda do fim do mundo – de onde para alguns eu tinha retornado... A distância da qual me acenavam era o meu remédio e meu material de sonho.

            Eu sempre tive de tudo e, o que não tinha, meu pai mandava buscar, estivesse onde estivesse. Desde pequena, qualquer mimo, por mais caro ou absurdo que fosse, tinha que ser meu e não importavam nem preço e nem procedência. E eu era bem habituada neste jogo... E, o mais engraçado, e hoje eu penso nessa ironia, era o fato de que eu, que tinha tudo o que quisesse, precisasse me apropriar, indevidamente, daquele magnífico anel e conspurcar tudo o que ele representava ou pudesse representar. Muitos anos mais tarde, quando tive coragem de encarar , finalmente, minha consciência, é que pude ouvi-la a me dizer que não só roubara a jóia, mas a alma e a vida de outra pessoa...
 
            O tédio no campo era uma veneno para a minha alma que se habituara às novidades e à falta de limites. Passava o tempo inventando festas e bailes. Eram sempre bons motivos para unir os bem-nascidos da região, hábito aprendido com meus pais que tinham como altamente satisfatório para cumprimento de seu plano e, secretamente, o meu também: encontrar alguém de meu nível social e intelectual e que gostasse, tanto quanto eu, de alguma agitação. Meu sonho era morar onde as coisas aconteciam – em São Paulo, Rio de Janeiro, ou outro lugar na Europa... Entretanto foi uma grande decepção quando acabei por dar pelo provincianismo tacanho dos poucos rapazes interessantes do lugar: suas parcas pretensões giravam em torno de manter ou aumentar a produção das terras da família. Cedo percebi que meu lugar, de fato, não era aqui."